segunda-feira, 31 de março de 2014

Última Parada 174


Sabia que não ia demorar muito para Isiane Chaves aparecer por aqui trazendo seu texto de cinemeira honorária. Nossa amiga jornalista é outra que nos acompanha desde do início do blog e que está sempre disposta a ajudar com comentários, sugestões e dicas de filmes. Dessa vez, ela mesma escreveu a resenha desse filme nacional baseado numa história real que, infelizmente, não teve um desfecho muito agradável. Acompanhem

Luz, câmera, revolta! Lema carregado no coração do personagem Alê monstro vivido por Marcelo Melo Jr, arrancado ainda bebê dos braços de sua mãe por conta de uma dívida do trafico em 1983. Rumava para um só alvo: liberdade.
Ingenuidade e esperança foram sentimentos que travavam uma batalha com a dureza da triste realidade de Alê.  Os seus referenciais eram o submundo do crime e as drogas. Amor, amizade, lealdade ações estas que o levaram a acreditar em alcançar um mundo em tela colorida. Sociedade para Alê representava algo ameaçador e desconhecido que o fazia permanecer na caverna do esquecimento escura e fria onde a luz tentava entrar, mas o silêncio e incompreensão da tal sociedade impediam.  De personalidade forte Alê gritava aos quatro cantos do mundo que construía e desconstruía para esquecer. Vítima da violência urbana se sentia um ser tragado no mar da revolta. Buscava a conquista ao seu modo esperando o levantar da mão da sociedade.

Abre as cortinas e o espetáculo começa! Inicia sua trajetória nas calçadas da Candelária, seu lar, onde o teto era as estrelas, o céu o sol e a lua a sua iluminaria. Caminhava para um destino desconhecido e incerto passando pela prisão, vivenciando a liberdade libertina, a decepção de amar e ao reencontro materno.   As cortinas se fecham e o seu brilho se apaga como o por do sol. Á grosso modo clamava justiça aos seus pequeninos irmãos e compreensão para a sua dor que gritava na alma. O coração de carne aos poucos se transformava em um trevo seco que a qualquer momento levantaria voo para o mundo do esquecimento.
Cinemeira Isiane
A realidade que o filme retrata ainda existe até hoje. Muitos Alês de hoje travam uma batalha consigo mesmo. Governo, família e amigos muitas vezes não participam desta luta sem saber por onde começar. Problemas existem e suas fórmulas também. Quando as formulas não correspondem aos problemas não há exatidão no resultado, ou seja, não há o eureca, o enfim encontrei a resposta! O pilar central e relevante na vida do ser humano em desordem é a família, principalmente a figura materna. O filme retrata uma cena que levou Alê a morrer com seus sonhos: Voltando para casa após ficar vagando nas ruas frias e escuras esperava encontrar ajuda de sua mãe que olha e diz: “não quero saber de filho bandido”. Foi como fogo queimando seu coração. Mãe, serva e temente a Deus, mas ao mesmo tempo humana falha ao agir na razão.
 
Fica a dica para quem ainda não assistiu dar uma conferida nesse retrato cruel da nossa realidade.

Um comentário:

  1. Ai, que triste! E quanto ao não sabermos o que se passa na mente de um criminoso? E quantas pessoas são tragadas para esta dura realidade...
    Forma bastante singela de escrever, hein, Isi!

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